28/10/2006

Hora da Treta


Logo às 2h atrasa-se o relógio para a 01h e entramos na hora de Inverno. Hoje o sol nasceu às 07h58 e o ocaso será às 18h42, mas amanhã já estaremos envoltos na depressão nocturna às 18h.
Não sei bem o valor desta medida, só sei que perturba o meu equilíbrio e agrava a melancolia, já tão própria do tempo abstido de sol.
Mas, dirão os chatos, já será dia às 7h. Quero lá saber, ninguém que saber disso, niguém sai para a rua antes das 7h30 e quero lá saber se é de noite, se sair vou quase a dormir, mais vale que esteja escuro.
No Inverno se fazemos noitada, quando acordamos já o dia está a morrer, com aquele sol miseravelmente baixo e amarelo pálido, adoentado, como nós, de resto.
Na realidade, até acho que se poupava dinheiro deixando a hora como está, pois como toda a gente, a gente de escritório, só entra às 9h, mas nunca sai antes das 18h, significa que as luzes dos edifícios já estão acesas às 16h30, enquanto assim ficariam mais tempo apagadas, mesmo com os dias a diminuírem até 21 de Dezembro.
Em rigor estou-me nas tintas, o meu escritório tem as luzes acesas o dia todo. A mudança da hora encurta-nos é o fim-de-semana, os passeios acabem mais cedo. E o que se faz naquelas horas em que já é noite, mas ainda é cedo para jantar? Filhos!?

22/10/2006

Sim, mas


Os Domingos assim são um encanto, a olhar a chuva de dentro de casa em pijama; pequeno almoço tardio, com o jornal na mão; a fazer tempo para um almoço mais elaborado, com um vinho guardado nas profundezas da despensa; mas prefiro os dias de praia ao ar livre, de barriga peluda ao ar para bronzear a alva pele; preguiça sem limites; sandes de atum com tomate por refeição e mar com céu azul a perder de vista.

21/10/2006

Um Expresso por favor


O Expresso está há algumas semanas diferente, tão diferente que comprá-lo era um prazer e agora é um desmando do Diabo. Aqui no meu povoado torna-se ridículo procurar um exemplar após as 11h da manhã de Sábado "ah, já acabou...", "oh, acabou eram 9h30", "olhe vendi agora o último"
Obter o dito semanário é tão difícil para quem fica mais uns minutinhos na cama que o único paralelismo que arranjo é a dificuldade igualmente sentida quando vou ao médico de família. Por este andar não tardaremos a pernoitar à porta da nossa tabacaria, esperando para ser um dos primeiros só para comprar o Expresso.
Ah e constou-me que o responsável é o DVD gratuito que eles colocam no saco. Mesmo que não se ligue nenhuma à literatura, sempre é um filme a € 2.80...

19/10/2006

Referendo parte II


Foi hoje aprovado em Assembleia da República a realização do referendo, o 2º, sobre a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez - o aborto, como rude e boçalmente faz questão de apelidar-lhe o líder de bancada do CDS-PP, Nuno Melo.
O documento que aprovado contém a pergubta a referendar e foi aprovado com os votos do PS - com o contra da víuva do Sousa Franco -, PSD - mais um pacto de regime -, e BE. O CDS absteve-se e a CDU votou contra.
O discurso da CDU não me perturbou. O PCP e os Verdes acham que matérias destas, de civilização e direitos humanos, devem ser votadas na Assembleia da República, sem qualquer discussão pública e não referendáveis. Estou de acordo, é esse o trabalho dos deputados, a responsabilidade de quem é eleito numa democracia parlamentar representativa.~
Mas a questão, já aqui falada até, é que o referendo em vigor - quase 8 anos - foi contrário à despenalização. Logo não se poderá legitimar uma acção dessas políticamente fazendo passar o diplma através da maioria absoluta do PS na Assembleia da República. Apesar de tudo, face á nova visão social dos portugueses, quase todos os partidos farão mobilização, ainda que pelos canais informais, nesta campanha. E o SIM deverá ganhar sem grandes dramas. Aliás, já ninguém tem paciência para o discurso do "eu sou pela vida" ou "não matem o Zezinho". Eu serei pelo simm e não quero que o Zezinho morra , nem tão pouco sou pela morte. Saúde pública, meus amigos, é esta a questão que importa ressalvar. A jovem adolescente, a senhora casada, e as outras todas, elas continuarão a abortar, seja em Mérida, Southampton ou no Restelo, na casa da parteira Beatriz. E estas, sem capital para turismo do aborto, continuarão a aparecer no hospital distrital mais próximo para tratar do útero mal raspado ou da infecção que ameaça alastrar.

12/10/2006

Academia Sueca


O laureado com o Nobel da Literatura é o turco Orhan Pamuk.
Caso não acompanhem o blog que estão a ler não vão achar nada de especial, mas se fizerem um esforço vão recordar-se de um post de algum tempo, em que falámos dele.
O senhor havia sido detido devido a algumas declarações proferidas acerca do "mitológico" extermínio dos arménios na Turquia, tal como os massacres dos curdos. Acontece que o escritor não pensa como os livros e os historiadores turcos pensam, e isso, mais do que o seu mérito literário, que não conheço e não ponho em causa ou em ênfase, lhe valeu o prémio Nobel da Academia Sueca para este ano. Consultem aqui.
A Academia Sueca está efectivamente comprometida com a democracia e com os direitos e liberdades individuais, talvez mais do que com a própria arte literária. Só assim se explica a atribuição em 1998 do Nobel da mesma categoria ao português J. Saramago, oprimido político no seu país e residente em Espanha, nas ilhas Canárias, onde se encontra refugiado.

09/10/2006

Virar à direita


Começo a ficar perturbado com as minhas inflexões de direita.
Dou comigo a pensar que ainda bem que há polícias na rua, ainda bem que os estrangeiros são impedidos de entrar no espaço europeu, duvido que a Turquia traga boas novas para a Europa, quem rouba carros deve ser punido severamente, a segurança social não deve financiar preguiçosos...
As minhas posições mais conservadoras têm vindo a ganhar terreno na minha lógica, face ao velho idealismo esquerdista puro e duro.
Não sei se será a idade ou a tendência para a estabilização, ou sei lá o quê, mas sinto-me a reinventar a minha identidade depressa demais, tão depresaa que nem consigo assumir algumas posições convenientemente. Felizmente, para mim e para o mundo, tenho tentado ponderar a posteriori sobre as questões reactivas (de reaccionáro) que me assaltam frequentemente e desmonto muitos dos preconceitos antes que se cristalizem no meu carácter, nomeadamente todas as questões do primeiro parágrafo.
As próprias alterações profundas que a adminstração do Estado está passar por tem-me perturbado, e velhos chavões deixam de o ser, encostos que se partem, bananeiras que deixam de dar sombra. Mas também bolos com fatias mais pequenas, mãos amigas mais distantes e frias, avaliações mais severas e rígidas, etc.
No fim deste processo teremos todos inflectido à direita, nem que seja mais um bocadinho. O espectro político será mais uma vez reposicionado para o lado direito da vida, para depois nos reinventarmos todos outra vez.