17/12/2006

Sono


Quando, na minha adolescência, comecei as noitadas imaginava-as assim maravilhosas, eternas, nunca seria capaz de não achar a noite fascinante, principalmente a lisboeta. Essa então, com as peculiaridades de uma grande cidade, seria a eterna noitada, sempre gloriosa. Enfrentava-as sempre fossem quais fossem as dificuldades, chuva, frio, calor, negas à porta, tudo valia a pena. Mas à medida que o tempo vai cruzando a nossa existência, com o trabalho e os afazeres comuns a malharem-nos porrada no corpo, a noite vai tornando-se dura e ruim. E mais, a noite é cara e porca por vezes, como o frio associado ao cheiro das docas, as maquilhagens baratas e exageradas das gajas de Queluz e Barreiro e do fim do mundo, o hálito a alcoól e os comportamentos alterados, grosseiros, os carros quitados na rua a broarem na escuridão e os seus condutores todos iguais com o mesmo boné enfiado em cima dos brincos dourados, os PSP com o colete lá ao longe, os ambientes degradados e desclassificados têm-me retirado a vontade de saír muito. E depois já não são raras as vezes em que desisto a meio, a bocejar que nem uma criança com o copo na mão. A tendência é mesmo dormir cedo, quebrado pela dormência generalizada, pelo excesso de cerveja ou vinho, ou pelo aborrecimento. Nas últimas saídas dei por mim a fechar os olhinhos e a ver todos destorcidos, ainda nem tinha dado o Vitinho. Azar o meu, a noite em Lisboa não começa antes das 2h e não termina antes das 6h ou 7h. Eu que me ajuste à realidade ou vou começar a ficar mais vezes em casa...