31/01/2006

Quero uma estação de rádio só para mim

Quero saber porque é que eu, que entro ao trabalho às 11h, não tenho direito a um programa de rádio, um só, que seja apresentado ou conduzido, ou que tenha uma rúbrica com gente engraçada? Quem entra às 8h ou às 9h pode ouvir no carro o especial da Antena 3, com Nuno Markl, o doente do Bubu e tudo, ou a gente alternativa da Radar, tem até aqueles gajos do Rádio Clube Português, tem os bacanos da Best Rock e da MegaFM. Mas os miseráveis, como eu, que dormem mais uma hora ou duas já não podem ter este serviço: "Nán, nán, nada disso, quer dormir ouve o tecno, ouve o empresário, pode até ouvir o padre, mas nada de pessoal com alguma graça. Lamento imenso, mas não está incluído nesse plano. Em alternativa temos este aqui, muito bom também, para quem entra à meia-noite, com a Hora do Lobo e com o Oceano Pacífico e com cerca de 30 estações que põem a cassete e não têm converseta".
A cereja no topo do bolinho vem com a hora de saída, pois a essa hora só tenho gente da gravata e do bocejo a falar na rádio outra vez.
Resta-me o consolo de não apanhar a hora do trânsito das massas aburguesadas...

23/01/2006

Foram vocês, não fui eu


O que mais impressiona nas eleições são os derrotados. Para quem não sabe, as derrotas são muito duras. Mas de diversas formas para as diversas pessoas envolidas. Para o candidato, quando muito, são uma página menos brilhante do seu invejável currículo, mas para o apoiante-braço-direito que dele depende o seu emprego e a estabilidade da sua vida yuppie, estas derrotas podem ser uma desgraça para os seus próximos 5 ou 10 anos, ou até, uma vida defuncionário público. Para o apoiante de base estas derrotas significam o fim de um sonho que se iria esfumar ao fim de alguns meses ou anos, só que mais cedo. Talvez para alguns seja razão para ir bater na mulher, cortar a mesada aos filhos ou ser um asno de chefe no emprego durante os próximos dias.
Para mim, que nem sei muito bem que ando a dizer, isto não passa de uma derrota ideológica. Para mim não passa de uma derrota de fé. Perdi, provavelmente, o último bocadinho de esperança no povo. Este povo tem uma memória tão curta, tão selectiva e tão não sei que mais que me tira do sério. Para mim foi o terminar, por 10 anos, da chance de ter um chefe de Estado da minha sensibilidade política, alguém em quem me revisse na tomada de posição, nos ideais. Este povo teso e mesquinho votou na direita, em quem menos se importa com ele.
Espero que se lembrem que foram vocês que votaram nele, povo.

10/01/2006

Eu quero ser excêntrico

Uma dúvida tem-me assaltado nestes últimos dias: que fazer com os 20 milhões de contos que vou ganhar esta semana no Euromilhões?
Tenho perdido inclusivé algumas horas de trabalho a contemplar o horizonte, perdido nas minhas reflexões, mas não consigo pensar numa ideia que me preencha.
Eu sei que não sei que digo, mas pensei em comprar a empresa onde trabalho e despedir todos os tipos que estão por cima de mim na hierarquia, ou seja, todos os 254 colegas, e de seguida deslocalizar para o Vietname ou Laos. Mas ia ter os sindicatos à perna. Pensei em comprar caviar de Esturjão e encher a piscina municipal com aquela porcaria só para me banhar à Tio Patinhas. Mas iria acabar com o stock mundial e provocaria uma crise só comparável à do petróleo. Por fim ocorreu-me candidatar-me à presidência da República, mas já não vou a tempo, visto o prazo da entrega da documentação oficial ter terminado há 3 semanas. Assim sendo, não sei que faça.
Euromilhões patrocinador oficial do Lisboa-Dakar. Já agora, que loucura é esta do Rally do deserto? Quem quer andar perdido no deserto, a morrer de calor e desidratar, atolar na areias, ser perseguido por beduínos, ou ser assaltado por alguma guerrilha marxista na Mauritânia? Além disso somos tesos demais para andarmos interessados por estas coisas... Ah, é verdade, existe a Mediatis e a Cofidis!

04/01/2006

If you're ready for me boy


Aqui há tempos ouvi um colega de trabalho dizer, numa animada conversa de coffee and cigarette break, que a idade pesa, mesmo aos 27, 28 anos. “Pateta”, pensei eu imediatamente, “sabes lá tu o que dizes”. O gajo não se impressionou com a minha indignação mental, aproveitou logo para dar alguns exemplos, dos quais não recordo nenhum excepto este que vou contar. Dizia ele que se lembrava bem da evolução do seu acto de urinar, pois quando tinha 16 ou 17 anos bastava sacar do coiso para fora e mijar, sacudir e arrumar, enquanto que agora tem que sacar, mijar, sacudir, sacudir, sacudir, mijar umas gotinhas, sacudir, sacudir, ops, mijar mais 2 ou 3 gotas e finalmente arr... ‘pera aí, sacar muito urgentemente, mijar mais 3 ou 4 gotas, sacudir e, agora sim, arrumar.
Proféticas para mim estas palavras, pois lembro-me bem de quando se ia fazer um xixi em 35, 36 segundos – aos 14, 15, 16 anos. Hoje não é nada disso, temos que ser pacientes, muito pacientes e esperar sempre por alguma partida do músculo que regula a saída de xixi, não vá o gajo largar algum fluxo furtivo.
No fundo esta experiência reflecte-se em tudo na vida masculina, pois com o aumento da idade os homens tendem a ser mais pausados, calmos, aprendem a esperar a oportunidade, perdem ansiedades ridículas, revertendo-se em coisas fantásticas, como transformando-se em óptimos amantes. Está quase a chegar a minha idade. Depois poderei usar aqueles perfumes que os rapazes ainda podem esperar.

01/01/2006

Falta tempo


"Faltam 364 dias, 4 horas e 28 minutos para 2007"
O tempo assumiu definitivamente uma dimensão inalcançável. Até aos 16/17 anos o tempo estava perfeitamente compartimentado, dentro de estantes, pois distinguia-se sem complexidade qualquer acontecimento, pois as nossas relações com as pessoas foram sofrendo alterações de acordo com a nossa maturidade, tornando fácil reconhecer e balizar qualquer ocasião passada.
As aulas...! os anos escolares duravam eternidades, carreguei cruzes pesadíssimas para acabar a 4ª classe. Mas depois dos 16 anos o tempo tudo funde. O tempo voa e as alterações no nosso físico, que levavam horrores de tempo a acontecer na infância, são agora da noite para o dia. Quantas vezes não acordamos com uma cara diferente daquela que nos deitámos? Costumo até dar um gritinho, vendo no espelho, em vez de mim, outro qualquer.
No fundo o que quero dizer é que o ano vai terminar já daqui a nada. Voltaremos, não tarda nada, à procura de prendas para a família, à procura de casa para a passagem de ano, pois andamos tão embrenhados na nossa porcaria de vida que nem damos conta quando chegam as andorinhas, ou nem reparamos que as flores despontaram. E não, não sou gay, estou apenas a salientar que a natureza tem um ritmo bem mais harmonioso do que nós, e deveria ser esse o seguido.