Declaração de interesses: não sou
sportinguista, Deus me perdoe, e, desde que não me belisque o FC Porto, o Sporting pode ficar com o lugar que quiser na liga, pouco me importa. Aliás, adoro assistir sentado ao campeonato da 2ª circular - horas de vida ali passadas a
snifar monóxido de carbono - , a disputa pela pré-
eliminatória da
Champions e às guerras de palavras que os
totós das respectivas direcções (e adeptos) levam a cabo todos os anos,
reminiscências das cabazadas que infligem uns aos outros com alguma regularidade.
Mas a expulsão do
Vukcevic,
proporcionada pelo 2º amarelo, é o tal caso que me faz pensar que os
reponsáveis da FIFA e UEFA são todos portadores de um mono-
colhão ou nunca jogaram futebol, ou, então, são apenas ex-jogadores, centrais duros de rins de 2ª divisão, cuja canela dos adversários começava no dedo do pé e acabava 2 cm acima da maçã-de-Adão. Ou, talvez, tenham todas estas qualidades. Explico: o golo é o objectivo do Futebol. Sem golo o adepto não faz festa e os jogos não têm vencedores. Sem vencedores não há derrotados - Benfica e Sporting. Sem os cabeçudos atrás não há alegria, sem alegria não há público, sem estes não há dinheiro de patrocinadores, não sobra nada. Ou seja, o golo é a cena. Quando o
feioso do
Vuk marca o golo, aquilo, para ele, é o escape de anos e anos a levar porrada da mãe e dos colegas de turma da primária, das orelhas de burro na escola, da carta tirada à 8ª vez, daquelas
quecas frustradas por falta de
tusa, daquele bolo que ficou colado no
pirex, das trancadas com o dedo mindinho nas esquinas de casa, das
piçadas no balneário do Paulo Bento, etc. E o mesmo se passa com o adepto: quando o
Vuk marca o golo é a explosão de
ressabiamento do Vilela, da fila 25, lugar B, é o soco nunca dado no vizinho do 7D por lhe ter comido a mulher, é o "vai p'ó
caralho" nunca dito ao chefe por não o aumentar desde a adesão à
CEE, é a nunca concretizada operação para remoção do furúnculo na
peida. E isto apenas para dizer que é
incompreensível a admoestação do jogador de futebol que tira a camisola para festejar o golo. O golo é a explosão dionisíaca de ódios e amores, se se tira a camisola é porque ela actua como colete de forças e impede a sublimação do espírito. Ninguém dá cartões amarelos às gajas que mostram as mamas nos concertos de rock.