07/04/2010

Um certo aroma a enxofre

Quando o sector da indústria, rico e poderoso, se reúne em manifesto sente-se sempre um cheiro a enxofre no ar: esta gente não olha senão ao capital e nem vale a pena falar-lhes em coisas como sustentabilidade, se não for a sustentabilidade económica dos seus investimentos. Certo, criam riqueza e empregos. Por isso lhes dou algum crédito nesta questão. O nuclear, não sendo o futuro do planeta, encerra em si, pelo menos, a necessidade de ser discutido abertamente, principalmente por nós, que não temos quaisquer recursos energéticos fósseis e que somos demasiado dependentes do estrangeiro nestas matérias. Tem vantagens: extremamente energético, logo relativamente barato a longo prazo; não produz CO2, o que é fixe para as metas de Quioto e tal; é pouco dependente de factores especulativos, como o petróleo. Mas tem desvantagens: tecnologia dispendiosa e inexistente em Portugal; produz resíduos extremamente poluentes e de caríssima eliminação; é uma energia não renovável, logo dependente de matéria prima finita; e, mais, ninguém quer uma central nuclear à porta de casa.

As energias renováveis existem e têm-se expandido graças à legislação actual, que obriga à entrada na rede da electricidade gerada pelas renováveis, e pela subsidiação governamental, mas também é esse o papel que imagino para o Estado: criar condições de crescimento sustentável, desenvolvendo os recursos  existentes, mesmo que a fundo perdido - tal como fazemos com o SNS, por ex, não é suposto dar lucro. A chatice é que por estes motivos pagamos a electricidade mais cara.
Por isso creio que a discussão do nuclear deve ser feita, não com a perspectiva de se construirem centrais que encham os bolsos aos investidores, mas com o fito de isso incentivar o nosso crescimento económico e a diminuir a nossa dependência energética face ao estrangeiro. É um erro não se fazer este debate com base em preconceitos de segurança (Chernobyl e outros que tais foram, felizmente, indecorosas excepções).