25/08/2005

IRAQUE


Ainda não tinha tido oportunidade de falar acerca do Iraque. Aberração da administração americana, esta guerra, que ainda não acabou, serviu para construir um monstro islâmico. Os anti-americanos radicais islamitas aproveitaram o estado de sítio durante a guerra para fazerem deste um centro de recrutamento paramilitar de suicidas.
Os ódios pelos americanos não foram sendo nutridos só à medida que a invasão ganhava forma e corpo. Mas contribuiu mormente para o assumir de ódios. Hoje a invasão no Iraque, mais que uma fonte de revolta mundial, é uma nascente de terror anti ocidente, o qual julgam ser o expoente máximo os EUA.
O problema é que me sinto na obrigação de dar alguma razão aos radicais quando estes clamam justiça contra os americanos, e os desejam bem longe do Iraque. Já não me identifico com eles quando confundem os interesses económicos / geopolíticos dos EUA com a tolerância ocidental, cultura fundada na tradição judaico-cristã e com o ecletismo de quem sorve sabedoria em outras culturas. Aí não tenho eu tolerância por quem não respeita a minha liberdade.
Isto tudo porque, segundo leitura atenta de alguns comunicados, o Iraque se prepara para concluir e aprovar a sua constituição pós-Saddam. Acontece que a Comissão que prepara este documento é constituída de forma representativa das comunidades e tribos existentes no país. Significa uma percentagem muito alta de Xiitas na comissão, que são os mais conservadores, representantes das classes mais baixas. Temos como corolário a formação de uma constituição federalista e submetida ao Corão.
Que pode isto significar? Eu não sou especialista, nem estou reunido dos meios e estudos, documentos que comprovem o quer que seja, mas, para já, temos o nascimento de uma nação islâmica partida por regiões autónomas. A NÃO SEI QUE DIGO parece que vamos, paulatinamente, assistir à formação de uma democracia instável, pressionada politicamente por um lado pelos EUA para a implementação de leis democráticas e confluentes com os interesses americanos, e por outro, pelos grupos mais conservadores islâmicos, com o apoio do clero muçulmano e do povo, com o objectivo de criar condições para o país se obscurecer no fundo do poço corânico, com a sharia e as consequentes burkhas e mais conservadorismo medieval (permitam a minha revolta perante homens que se ofendem com a nossa cultura mas usam telemóveis americanos, Internet, armas russas, automóveis alemães).
Ora, a mim, modesto director de redacção, parece-me que o Iraque não tardará a caír, pelos meios democráticos, nas mãos dos fundamentalistas. Que pode fazer o Grande Libertador e bastião da Liberdade e Democracia Mundial (EUA)? Não retira de lá nunca as suas tropas? Abandonar à sua sorte os destinos iraquianos depois de tanto dinheiro e esforço material lá investido? Ajudem-me porque tenho tantas dúvidas.
Os promotores da libertação do jugo de Saddam nunca se lembraram que aquilo poderia ser um poço cheio de radicais, dispostos não só a não lhes vender petróleo nenhum mais tarde, como a fazer-lhes a vida negra onde e como puderem? Talvez ainda se assista a uma terceira guerra do Iraque, para libertar o povo oprimido (leia-se poços de petróleo) pelos neo-talibans iraquianos. Lá colocados com a ajuda americana! Enfim, histórias circulares que tantas vezes ouvimos.
Saddam era horroroso, déspota sem escrúpulos, está-se melhor sem ele. Mas o Estado era laico, dava espaço, em teoria, para a modernidade e democracia ir abrindo brechas na carapaça do regime, pelas mãos da burguesia. Existia uma classe média livre das garras fundamentalistas que poderia ir fomentando a abertura. Assim, não sei.