06/07/2006

Vergonha alheia


Foi com muito agrado que registei uma diminuição significativa no número de minutos de telejornais dedicados ao Mundial. Na realidade a banalidade já roçava a incompetência de ter assunto. Ainda assim não pude deixar de visionar a reportagem feita por uma cadeia de TV brasileira em que punham voz nos lábios de Scolari, naquelas imaggens em que vemos o treinador a vociferar para os seus jogadores ou arbitro e nunca compreendemos o que dizem, salvo asneirada da grossa. O trabalho duro esse foi feito por uns jovens surdos que lêm lábios. O resultado final foi uma panóplia de coisas sem significado, outras as típicas ordens para dentro de campo e até umas quantas orações em formato micro enquanto se marca um penálti.

Agora que estamos a pouco e pouco a voltar à realidade podemos lembrar-nos que Israel anda pela Faixa de Gaza a distribuir tiros e morteiradas em tudo o que mexe e que, lindo, a Coreia do Norte, que é só um dos países mais pobres do mundo, que mal consegue alimentar com trinca de arroz os seus habitantes, disparou 7 misséis, um deles de alcance intercontinental, em direcção ao Mar do Japão. Para quê? ninguém sabe ao certo. Os senhores da Coreia do Norte gastam o orçamento quase todo nas forças armadas, desenvolvem à força equipamento militar e armamento do mais sofisticado, com tecnologia nuclear, apenas para tomarem posições de força junto da comunidade internacional. Mas as posições que tomam não apagarão nunca os traços da fome e do medo que grassa pelo seu país, com uma nação destruída pela violência e o embuste, numa mentira absolutamente Orwelliana, provando que a história pode ser escrita e reescrita vezes sem conta e fechando o país, não só ao investimento, mas também aos olhares estrangeiros, num autismo inacreditável, tão inacreditável que provoca vergonha alheia, e que marcará as próximas 3,4 gerações.