09/01/2011

Ás de Espadas


Quando era miúdo observava a minha vida adulta cheia de certezas quase absolutas. Aos 18 anos iria ter a carta de condução e maturidade suficiente para poder dominar o mundo e ter namoradas boas e desinteressantes como as que via nos filmes. Na pior das hipóteses ia ter sorte diariamente no dormitório da faculdade, onde as raparigas andariam em trajes menores a servir cerveja aos colegas de curso. Aos 30 teria obviamente entre 2 e 7 filhos, um emprego de gravata, com milhares de dossiers de arquivo cinzentos na parede e seria um proprietário feliz de um carro sedan de cor neutra. Tiraria férias no Algarve em Agosto, bem no centro de Albufeira, e jamais usaria bigode. Tudo felicidade, porque os problemas que passara em criança nunca existiriam na idade adulta, estes advinham sempre da falta de bom senso dos miúdos - na 2ª feira podíamos jogar futebol com a bola do Necas, na 3ª feira já não lhe apetecia... de manhã o meu carrinho da matchbox era o mais fixe da turma, mas à tarde afinal já não... antes da aula podia levantar as saias às raparigas, mas depois da aula o pessoal já não alinhava...
A grande desilusão da vida começa quando percebi que os adultos tinham muito menos bom senso que algumas crianças. E aí percebi que um dia poderia mesmo usar bigode - já aconteceu - e que se calhar não ia tirar férias nunca a leste de Lagos.
Os objectivos foram todos reformulados e, passados muitos anos, tudo é diferente do que imaginei.
Termino esta minha crónica (a qual dei agora conta que parece uma imitação barata do Nuno Markl na Rádio Comercial) concluindo que, para já, nada cumpri ao qual me propus. Mas, pelo que vejo, ainda bem.