09/09/2009

Da natureza do insulto


Quem conhece a Av. Forças Armadas sabe que a iniciar-se a subida, ali na perpendicular com a 05 de Out, a estrada de 4 faixas se transforma em 2 para quem segue para a dita 05 Out (à esquerda) e noutras 2 (à direita) para subir as Forças Armadas. Os espertinhos colocam-se nas faixas ao lado esquerdo, com menos trânsito, e depois quando abre o sinal é um regabofe tipo Red Bull Air Race em Nova Deli a meterem-se pela direita à frente dos civilizados.
Esta manhã igual filme. Escandalizado desde casa, porque já vinha a pensar nisso quando fechei a porta da rua, assim que aquele Toyota se põe na minha faixa leva logo com a buzinadela ininterrupta de 100 m, e as respectivas invectivas "Corno!"; "a tua mãe é um homem!". E pelo canto do olho esquerdo em chispas vejo que se trata de condutora e passageira. Reformulei e lá vai disto: "tinhas que ser uma gaja!"; "as duas juntas não valem uma couve de brux..." quando reparo que se trata de um par de freiras bonacheironas, em trajos de esposas de Deus, prontas a dar-me o olhar condescendente, tipo daquelas que fazem doces a toda a hora no convento para acalmarem os chamamentos da carne, e com óculos em forma de fundos de garrafas de vinho de Aveiras - na minha mente só surge o paralelo com a imagem da irmã Lúcia.
Fechei o vidro e elevei o volume do rádio e acelerei a 3ª a fundo para chegar depressa lá acima e refugiar-me no meu buraco da vergonha, com o Céu dois lanços de escada mais longe.