18/03/2009

A triste relação entre SIDA e a Igreja em África


Hoje no DN leio que D. José Policarpo tem uma posição aproximada da do Papa no que concerne ao uso do preservativo enquanto forma de prevenção para o HIV/SIDA. Refere, e cito de cabeça, "a OMS propõe 6 grandes medidas para a luta contra a SIDA e o uso do preservativo é a última". Ou seja, D. Policarpo ordena as medidas, destacando que o uso do preservativo ocuparia o último lugar (na eficácia, presumo). Prefere que se use a moral e bons costumes. Curiosamente estive a ler no site da OMS:
"Condoms can prevent sexually transmitted infections including HIV in 98-99% of cases, when consistently and correctly used. Therefore, it is the most effective strategy available to protect from HIV. However, condom use is not sufficient worldwide and in 2007 an estimated 2.5 million people were newly infected with HIV". ou seja, o preservativo, para a OMS é só o mais eficaz método de prevenção.
Concordo que se o pessoal todo recorrer à castidade e à abstinência sexual a transmissão do HIV será tremendamente reduzida, mas estamos a falar de pessoas, não máquinas, e estamos a falar de África: grande parte da população não é católica e/ou vive em contextos de sociedades tribais, com múltiplos casamentos e/ou não tem informação (note-se o caso da África do Sul, cujo governo, pelo menos até há pouco tempo, não reconhecia a relação entre o HIV e a SIDA), e/ou não tem acesso a tratamentos e/ou tampouco tem acesso a métodos de diagnóstico e/ou é assolada por outros problemas desagregadores como fome, seca, guerra, etc, que faz parecer a SIDA um mal menor.
A Igreja Católica tem um papel fundamental em África na luta contra a fome e pobreza e epidemias. E não digo que o preservativo seja a panaceia imediata para a SIDA, mas, inquestionavelmente, é um aliado de peso. Se continuar a ignorar/refutar o uso do preservativo nas suas mensagens, a Igreja vai continuar a assistir ao aparecimento de milhões de casos todos os anos, só em África, onde residem 67% dos doentes com SIDA em todo o mundo.
A Igreja assenta em dogmas e estes não podem ser destruídos, custe lá o que isso custar...