06/09/2006

A alegoria da caverna

O concerto de Pearl Jam no Atlântico de 05 de Setembro foi outro marco na minha existência. Num primeiro momento mais por ver a banda, como se revisse velhos amigos, daqueles bons. Mas depois foi mesmo por poder ter Pearl Jam, aquela banda que enche o palco como muito poucas sabem fazer, a poucos metros de mim. Como já havia explicado num post anterior, esta banda representa uma altura muito peculiar e marcante da minha vida. Não tanto pelos seus últimos albuns. No entanto poderia lá deixar de ir ao Atlântico.
Cheguei tarde, fiz gala de me estar a marimbar para a banda de abertura, estava ali por Pearl Jam. E foi bom assim, menos stress e cansaço à espera. Fomos logo para a sobremesa.
Mas a sobremesa estava esquisita, o som era horrível, abafado, como disse a Marta "é aquele som, quando estamos na casa de banho num casamento, com os copos, e ouvimos a banda a tocar lá fora"! Sim, era isso. E não podia ver o palco, tal era a altura média do público. E assim foi durante mais de 1 hora, tentando furar entre o pessoal, mas esbarrando sempre numa torre. E descobri uma nova espéie de público: os loucos pela captação de imagens. 3 em 5 espectadores estavam constantemente a tirar fotos ou a gravar imagens, alguns nem davam conta da música, só queriam fotos, e tapavam-me sem pudor a visão, já de si astigmatizada e deficiente face à baxa colocação do palco. Durante este tempo diverti-me a ver as sombras que os potentes focos desenhavam na parede do lado esquerdo, onde via o Eddie Vedder a cantar e dançar. Sim, estava na Alegoria da Caverna de Platão, não conhecia a realidade, apenas me deixei transportar na virtuosa capacidade de imaginação do que seria a banda, mirando-a na parede, a silhueta escura a ondular ao sabor da música.
No fim, tivemos a compensação pelo dobro do nosso investimento de € 33, quando as luzes de todo o imenso pavilhão se acendem e a banda deixou de estar no palco e passou a ser um de nós, uno, indivisível, uma massa única de orgia dionísiaca (musical, claro). Não me apetece escrever mais, nenhuma palavra deste modesto bloguista poderá descrever o sentimento de exultação e satisafção sentida.