16/09/2006

Uvas D. Maria


Felizmente já chegou a época das uvas D. Maria. É que espero todo o ano por estes rebuçados naturais. São brilhantes e gordas, duras, lindas. Foi enquanto comia um belo cacho de uvas D. Maria que ouvi na TV que o PS e PSD chegaram a acordo quanto a uma data e termos do referendo a realizar à IVG - Interrupção Voluntária da Gravidez, também conhecido por alguns como o aborto.
Esta questão, que foi chumbada em 1998 no 1º referendo relizado em Portugal, revelou uma enorme falta de decoro democrático da nossa população, para além de coragem política de quem o chutou para o povo decidir. Dos primeiros porque se excusaram a votar neste plebiscito, nem sequer 50% dos eleitores votaram. Dos segundos porque levar este tipo de coisas para um referendo à população é o princípio do fim da democracia representativa. Salve-se o respectivo exagero desta tomada de posição, o conceito de referendo levanta-me muitas dúvidas, pois os políticos estão nos meios de poder com um propósito que é governar e devem assegurar à população a melhor das prácticas económicas, sociais e políticas, garantindo o nosso bem-estar. A questão se o aborto deve ser practicado, num determinado quadro jurídico, dentro dos hospitais e clínicas públicas e privadas, em consonância com a legalidade, deveria ter sido debatido em Assembleia da República e nela votada, mas sempre com o debate trazido para o exterior, onde a sociedade civil, com as suas organizações não governamentais, clericais, anti-clericais, laicas, desportivas, de tricot, acção social, etc, se poderia revelar como um real quarto poder. Mas votar-se-ia no Parlamento.
Também não se gastaram milhões a perguntar-me o que fosse acerca da reprodução medicamente assistida, ou acerca da participação das tropas nacionais em contextos de guerra e paz no estrangeiro, ou se deveríamos aceder à CEE. Entre um milhão de coisas que me ignoraram e não me chamaram ás urnas a pronunciar-me. E bem.
(Agora se quiserem acabar com a nacionalidade portuguesa, acho boa ideia que nos consultem antes de nos transformarem em espanhóis).
Neste particular, para repôr a legitimidade política tem que se voltar a referendar a questão do aborto, para que não digam que o povo votou "não" e depois os políticos, essa corja, foram por trás fazer tábua rasa do ditado pelo povo.
Assim sendo, lá para Janeiro termos novo referendo, sempre vai dando para animar as hostes. É que com a questão dos pactos de regime isto está a começar a ficar monótono.