13/09/2005

A VIAGEM


Costumo pensar na morte. Não o nego. Penso recorrentemente na morte. Penso na minha morte, penso na morte daqueles que mais amo, nos outros.
Penso na hora do estertor, em que pensaremos nós nessa altura? Estaremos conscientes do fim? E o fim é suportável? Uma onda de absurdo varre-me o cérebro com frequência, ao pensar no fim.
Poderemos alguma vez processar mentalmente o fim do nosso espaço? O fim do nosso tempo?Ou o fim da nossa existência? Eu não consigo, mas tenho noção que ele existe. E não consigo suportar muito bem a caminhada para a nossa morte, porque esta existência é demasiado curta para nos preparamos para ela. Hoje, mais que nunca, tenho a consciência da relatividade temporal: os anos passam a correr, quando damos por nós estamos num tempo em que conseguimos olhar para trás e reconhecer -nos noutro tempo. A escola passa num ápice, o emprego corre sem vislumbrarmos uma mudança, mas quando reflectimos um pouco descobrimos que já não somos os mesmos. O tempo corre e estamos a envelhecer. O tempo não espera por nós.
A esperança de quem não se conforma com a passagem do tempo, com a perda das capacidades motoras e físicas, ainda que muito ténues, é agarrar-se a um tempo que espera vir melhor que o actual. Penso, na minha intimidade, que melhor tempo que o actual nunca existirá e nunca poderemos fugir do absurdo do fim. É um absurdo.